Dólar fecha quase estável apesar do conflito entre Israel e Irã 2q2u42

Estadão Conteúdo
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Dólar. Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

O dólar fechou praticamente estável nesta sexta-feira, 13, na contramão do comportamento da moeda norte-americana no exterior. No fim do dia, a moeda estava cotada a R$ 5,5417 (-0,02%).

A moeda norte-americana encerra a semana com queda de 0,50%, o que leva as perdas acumuladas no mês a 3,11%. Em 2025, o dólar apresenta desvalorização de 10,33% em relação ao real, que tem o melhor desempenho nesse período entre as divisas latino-americanas.

Pela manhã, o dólar apresentou alta firme e se aproximou do nível de R$ 5,60. Houve a aversão ao risco provocada pelo conflito entre Israel e Irã. Mas perdeu força no mercado local ao longo da tarde.

A recuperação do real se deu em dois estágios. Primeiro, houve um movimento mais técnico de ajustes e realização de lucros, embalado em parte pela valorização adicional do petróleo, para mais de 7%, com a escalada dos atritos no Oriente Médio. Em um segundo momento, o dólar desceu mais um degrau e se firmou em terreno negativo, descendo até R$ 5,5309 na mínima da sessão.

Bolsonaro e Tarcísio 4g1127

Operadores atribuíram esse segundo movimento à informação apurada pelo Estadão de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sinalizou ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disposição em apoiá-lo como candidato a presidente na eleição de 2026. A chapa teria como vice a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).

Para operadores e analistas, os investidores já começaram a operar de olhos nas eleições de 2026. Eles percebem uma perda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há a crença de que um candidato mais à direita no espectro político faria um ajuste estrutural nas contas públicas. Isso beneficiaria ativos locais. A reação contrária do Congresso e dos setores produtivo e financeiro à Medida Provisória do governo e ao decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) atestariam a deterioração do capital político de Lula.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que a esticada mais forte do dólar foi uma reação às incertezas provocadas pelo ataque de Israel ao Irã. “Em seguida, o mercado deu uma acalmada, corrigindo parte dos excessos. Tecnicamente, o avanço do petróleo tende a trazer um pouco mais de capital para o Brasil. O real pode ter surfado isso”, afirma Velloni, acrescentando que a questão fiscal, com o imbróglio envolvendo o IOF, pode uma hora acabar respingando na moeda brasileira.

Contra a Medida Provisória iq1v

À tarde, uma coalização de 20 frentes parlamentares ligadas a diferentes setores produtivos divulgou um manifesto contra a MP que ameniza a alta do IOF. Segundo apurou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o texto deve ser endossado por mais apoios nos próximos dias, tanto de setores quanto de parlamentares, já que a Coalizão das Frentes Parlamentares dos Setores Produtivos ainda está coletando s de confederações e mais partidos. A ideia da coalizão é se juntar na próxima terça-feira, 17, para pressionar o presidente do Congresso a devolver a MP.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que, embora a reação negativa à tentativa do governo de aumentar impostos comprometa o esforço de elevar as receitas e lance dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais, o real pode até se apreciar ainda mais se não houver uma grande onda de aversão ao risco no exterior.

“Não dá para ficar comprado em dólar com taxa Selic em 14,75% e podendo chegar a 15%. Ninguém aguenta sustentar uma posição com um custo de carregamento desse tamanho”, afirma Galhardo, referindo-se à possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual na próxima semana, para 15% ao ano.

No exterior 2f3z4i

No exterior, o índice DXY apresentou alta moderada e operava na casa dos 98,200 pontos, após máxima aos 98,586 pontos. O índice funciona como termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes. Os preços do petróleo dispararam e encerraram o dia com ganhos de mais de 7%.

Diferentemente do que era costumeiro em episódios de aversão ao risco, investidores não correram para buscar abrigo nas Treasuries. Pelo contrário. As vendas dos papéis fizeram as taxas subirem, em parte refletindo as preocupações com os impactos inflacionários provocados pelas tensões geopolíticas.

“Chama a atenção o fato de que o dólar teve uma reação modesta ao aumento dos riscos, com o DXY subindo apenas cerca de 0,5%, o que deve aumentar a percepção de erosão de seu papel como porto seguro”, afirma o economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica.