
Denise Remor nunca teve dúvidas sobre qual curso seguir. O Direito parecia uma escolha natural, em sintonia com seus interesses, sua paixão por leitura e o desejo de entender melhor o comportamento humano. O que ela não previa é que, já perto dos 50 anos, com dois filhos pequenos e uma carreira consolidada, trocaria os tribunais pelos bastidores de uma indústria. Após a morte repentina do marido, vítima de um infarto fulminante, Denise assumiu a presidência da Magnetron, uma das maiores empresas brasileiras no mercado de peças de reposição para motocicletas. i2g5h
Sem experiência prévia na gestão industrial, ela fez o que sempre soube fazer: estudou. Pediu ajuda, contratou professor particular para entender de finanças, mergulhou nos números e voltou para a sala de aula. “Lia muito, estudei, me virei”, resume, com a franqueza de quem aprendeu, na prática, que a coragem também se constrói com método.

Assumir a presidência da Magnetron foi um ponto de virada — mais emocional do que planejado. “Minha prioridade era preservar a empresa. Era dali que tirávamos nosso sustento”, conta. Nascida em Joaçaba, no interior de Santa Catarina, Denise deixou a cidade natal aos 17 anos para concluir o ensino médio em o Fundo, no Rio Grande do Sul, onde já sabia que faria Direito. “Nunca tive dúvida”, afirma.
Depois de formada, morou em Porto Alegre e, mais tarde, voltou a Joaçaba para trabalhar com o tio, em especial na área de Direito de Família. Foi ali que teve contato com os dilemas humanos que tantas vezes transbordam do campo jurídico. “O conflito começa pequeno, mas a falta de maturidade amplifica tudo”, observa. Ao longo do tempo, desenvolveu o que chama de “escuta seletiva”: uma forma de manter distância emocional diante de disputas. “Sempre fui racional e seletiva com o que deixo me afetar.”
Assista a entrevista completa de Denise Remor no Retrato Gravado:
O inesperado acontece
O casamento com Oscar Branco, então presidente da Magnetron, levou Denise a Curitiba no fim da década de 1980. “Quando cheguei, diziam que a Justiça do Paraná tinha dono. Preferi seguir na empresa da família, atuando na área jurídico-istrativa, mas assumir a presidência nem me ava pela cabeça.”
Mas o inesperado acontece. Fundada na década de 1960 como Magnetos Vibema Ltda., a Magnetron foi incorporada em 1976 pelo Grupo Caetano Branco. Em 1979, tornou-se fornecedora da Honda no projeto pioneiro de motos a álcool, com a bobina da CG125 como seu primeiro produto homologado. Ao longo das décadas seguintes, a empresa diversificou, exportou para América Latina e Estados Unidos e se consolidou como referência em seu setor. Quando Denise assumiu, em 2010, guiou a empresa por um processo de modernização, fortalecimento de marca e digitalização. Em 2024, alcançou o maior faturamento da história.
Hoje, a Magnetron conta com mais de 1.000 clientes ativos, um portfólio de mais de 2 mil itens e presença nacional por meio de milhares de distribuidores e revendas. E, mesmo trabalhando menos, Denise continua presente na gestão. “A empresa precisa continuar crescendo, com planejamento e visão de longo prazo.”
Além, disso, Denise é sócia da Flyworks Drone Show, empresa especializada na realização de espetáculos com drones. A Flyworks foi responsável pelo show de drones no Natal no Parque Barigui, em Curitiba; pelo primeiro show da história da Tomorrowland — o maior festival de música eletrônica do mundo — e também colaborou no recorde mundial com 10.000 drones na China.
A empresa criou o primeiro espetáculo entre estruturas do mundo, na tour Áurea, e projetou o rosto de Fernanda Torres no céu de Salvador durante o Oscar. O tributo a Ayrton Senna, em Interlagos, emocionou espectadores ao redor do planeta.

Equilibrio
A empresária organiza o tempo entre o trabalho e uma rotina pessoal que inclui ioga, musculação, tênis e pilates. Mãe próxima, como se define, é também leitora incansável, apaixonada por mitologia celta, arte e literatura. Publicou dois livros infantis e, atualmente, cursa escrita criativa — encaixando textos e exercícios entre reuniões e compromissos. “Tenho uma relação intensa com a estética e com a palavra. A arte me faz bem. Escrever me ancora.”
Denise é patrona do Museu Oscar Niemeyer, integra a associação do MAC e gosta de repetir que está em paz com o tempo. “Não gosto de me ver velha no espelho, mas gosto do que o tempo trouxe pra mim. O diabo é o diabo porque tem experiência, não porque é o diabo”, diz, rindo.
Entre a executiva e a escritora em formação, está a mulher que nunca deixou de observar o mundo à sua volta — e de se mover com ele. “Criar filhos dá trabalho, mas é um privilégio. Formar um cidadão exige presença, escuta e exemplo.” Em breve, será avó. E ainda tem planos para novos livros.
Sua história é de reinvenção. Mas mais do que isso, é sobre viver com curiosidade, manter os afetos por perto e seguir em frente. Sempre.
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FICHA TÉCNICA
Coordenação: Josianne Ritz
Apresentação e produção: Katia Michelle
Operação e edição: Evandro Soares
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