
Criar algo com significado, legado e identidade foi o ponto de partida para dois amigos paranaenses que, em plena pandemia, decidiram transformar uma paixão em projeto de vida. Rafael Guimarães, empresário do setor de tecnologia, e Antônio Almir dos Santos, veterinário, fundaram em Maringá a Statera Watch, uma marca brasileira de relógios mecânicos de luxo que já conquistou espaço internacional mantendo raízes profundamente regionais. 3c4m50
O gosto pelos relógios sempre esteve presente na vida dos dois, não como colecionadores, mas como iradores da arte e do simbolismo dessas peças. Durante o isolamento social, ambos questionaram se estavam felizes em suas profissões. Foi nesse momento que conheceram o universo da relojoaria independente, movimento em expansão na Europa, baseado na produção artesanal, autoral e limitada. Inspirados por essa tendência e incentivados por um amigo francês do ramo, os dois decidiram que trariam isso para o Paraná.
“Queríamos criar algo que deixasse um legado. Algo que, daqui 50 ou 100 anos, alguém pudesse olhar e dizer: ‘dois caras de Maringá criaram uma marca de relógios no Brasil que ganhou o mundo’”, conta Rafael.
A identidade regional é um dos pilares da Statera. Fugindo dos estereótipos geralmente associados ao Brasil — como futebol, samba e caipirinha —, a marca assumiu com orgulho suas origens paranaenses. Elementos como o pinhão, a araucária, a gralha-azul e os Campos Gerais inspiram o design dos modelos e permeiam a narrativa da marca. “A gente sempre se identificou com o Paraná, com o paranismo como movimento cultural. A Statera é praticamente uma ode ao nosso estado”, define.
Esse enraizamento regional, longe de ser um obstáculo, virou trunfo no exterior. Em abril, os fundadores participaram da maior feira de relojoaria do mundo, na Suíça, e apresentaram seus modelos para um público exigente. “As pessoas se encantavam com a história. Explicávamos que éramos do estado das Cataratas do Iguaçu, e aí tudo se conectava. Era exótico, autêntico e de qualidade, três ingredientes que fazem diferença na alta relojoaria”, relata Antônio.
Hoje a Statera está em seu segundo modelo, com outros dois planejados até meados de 2026. A produção é artesanal e limitada, com tempo de espera de até seis meses por unidade. Um dos diferenciais técnicos da marca está no mostrador dos relógios, fabricado com a rara técnica grand feu (esmaltação em alta temperatura), que funde vidro a discos de prata em um processo milenar. A dupla aprendeu a técnica por conta própria, com tentativa e erro, livros e, mais tarde, viagens à Suíça, onde foram acolhidos por mestres relojoeiros que os ajudaram a aprimorar o processo.
Além da técnica refinada, a marca também vem se destacando por romper barreiras estéticas. A relojoaria tradicional sempre foi marcada por modelos voltados ao público masculino, mas a Statera vem atraindo cada vez mais mulheres. Com diferentes tamanhos e uma abordagem sem distinção de gênero, os relógios conquistam novos públicos. “O relógio não precisa ter gênero, precisa ter identidade”, resume Rafael.
Mais do que vender relógios, a Statera. quer posicionar o Brasil como uma referência possível no mercado de produtos de alto valor agregado. “Luxo, para nós, é o cuidado com cada detalhe, é valorizar o tempo, a tradição e o fazer com as mãos”, concluem os fundadores. De Maringá, a Statera se projeta como símbolo de um novo Brasil sofisticado, criativo e capaz de competir com os melhores do mundo.
Alana Morzelli, sob supervisão de Mario Akira